domingo, 27 de setembro de 2009

O paradoxo da ciência


Que espanto! Ao começar a folhear as páginas de um jornal, de imediato me salta aos olhos a chamada de um artigo: O mundo sem homens! Pensei: "nossa, de que se trata?" Fui devorar o texto que para meu espanto se tratava da nova invenção científica quanto a reprodução humana. Pasmem!Espermatozóide sintético já é uma realidade!! Mesmo sendo algo, garantem os cientistas, realizado com a pretensão de apenas conhecer melhor os segredos celulares do espermatozóide (quem for tolo que acredite nisso), a novidade não deixa de incitar discussões do ponto de vista ético, político e moral.
Ao pensarmos no sujeito da psicanálise, iremos nos deparar com esse sujeito sempre desejante, incansável, insaciável que está sempre insatisfeito porque está sempre a procura de alguma coisa que o torna justificadamente incompleto. A ciência é a imagem desse sujeito... Ela nunca está satisfeita, para ela o impossível é o lugar, é o tão sonhado reencontro com a completude, aquela que vivemos tão fantasiosamente quando éramos bebê no colo de nossa mãe.
Dessa forma, o paradoxo da ciência está posto, pois ao mesmo tempo que ela se mostra precisamente um capital do conhecimento- o poder simbólico (como nos diria Bourdieu) que coloca o homem no patamar de um "quase deus"- ela também expõe a fragilidade inerente do homem, ou seja, sua incompletude pontual, o seu "real" inenarrável, a sua castração incrustada, mas tão negada.
Criar espermatozóide sintético atesta alguma falha... Onde se pensa chegar com isso? Por que dispensar tanto empenho para tornar os homens (machos) tao dispensáveis assim?
Pensamos que torná-lo dispensável é uma forma talvez de tornar sua carga mais leve, o isenta de provar incessantemente que é Homem que é o dono do falo! Afinal, há séculos o homem é cobrado por uma sociedade de base androcêntrica que ao mesmo tempo que o colocou no centro do palco o fez pagar caro com tantas exigências, com tantas provas de masculinidades a serem vencidas... Enfim, não é novidade a tão falada crise da masculinidade!Bem, são questões que incitam discussões, assim retornaremos a ela...

Roseane Farias