sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Máscaras às avessas

Me espanta tanta coisa...
Tanta coisa chama minha atenção!
Sempre há algo a surpreender.
Mas dentre tantas, a arrogância e a prepotência humana ainda me causam vertigens! Nada novo, longe do espanto de se deparar com facetas originais... nada disso, o que se passa é a mera repetição.
Estamos sempre repetindo e por isso sempre reparando.
Parecer, ostetar, fingir, mascarar... Estão na ordem do dia. Ser quem realmente não sou, de fato, se tornou o grande atrativo dos racionais de plantão. E aqui se multiplicam os adjetivos: (in) seguro, (i) racional, (in) feliz, (im) potente... E há quem acredite, isso é o mais agravante.
Desconfiada isso sim! Desconfio desses super adjetivos. As melhores máscaras são sempre as mais frágeis.
Poderíamos nos questionar, mas porque (ou para quê) tudo isso? São tantas as razões, tantos os motivos.
A fragilidade que tenta encontrar um esconderijo. A falta buscando seu tampão. O afeto sendo embotado. A verdade mutilada.
Doravante, a farsa faz "furo". A fenda se apresenta das maneiras mais sutis tanto quanto mais originais. E nessa linha tênue, reconhecer tais embustes realmente não se configura algo tão simples. Na verdade, a facilidade se encontra justamente em "comprar" essas imposturas.
Entrementes, eu faço esforço, a comprar hipocrisias prefiro vender "verdades"...

Roseane Farias

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Desejo x Demanda

Viver sem paixão é um marasmo. É deixar a vida escorrer pelos dedos sem fazer nenhum esforço. É inibir a pulsão de vida que grita. É o medo do descontrole.
Viver sem paixão é mais tranquilo, mais confortável. E quando pensamos que na contemporaneidade o erotismo tem sido regido pelo imperativo do gozo, como diz Maria Rita Kehl(2001), pelas leis de mercado e pelo apelo publicitário, fica patente que outras coisas estão "valendo" mais que o desejo, ficando este abafado, tamponado para que não cause nenhum desconforto.
Além disso, como pontua Kehl, é uma erótica circundante em torno de imagens de completude traduzidas em corpos atléticos, belos e perfeitos; como também "uma erótica da plena visibilidade, espetacular."
Nossos sujeitos "pós-modernos" obstinados ao exibicionismo, ao culto das imagens espetaculares têm verdadeira repulsa à falta e à ausência e tedem a trasnformar o objeto em mercadoria, assim substituindo o desejo (simbólico) pela demanda (imaginária) ou pela necessidade (Kehl, 2001).
As relações ganham caráter de superficialidade... Estar com alguém não encarna mais o desejo de se estar junto, mas a necessidade que se tem de estar com alguém que, de alguma forma, tampona as demandas mais imediatistas, mais líquidas, aquelas que ficam na superfície da comodidade, do tranquilo aterrorizante, do confortável, da plena segurança tão sonhada (mas imaginária)...
Todavia, sair desse cenário morbidamente tranquilo é dar vazão aos riscos. É reconhecer que na vida não há garantias... Sabendo que o novo, o inesperado, o desconhecido é o que mais incita o sujeito a viver desejantemente e apaixonadamente! O velho, o monótono não inspira nada, apenas atrofia a exuberâcia de ser e se reconhecer faltante. Visto que é a falta que mobiliza o desejo.
Com isso, para mim, o desejo justifica... Justifica o ato criativo, justifica o desejo que tenho pelo desejo do outro. É possível sim viver apaixonadamente por cada detalhe da vida, pela elegância das relações, pelo outro que desperta desejo...
Roseane Farias

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Menor impossível

A trajetória é intrigante! Mas quem nunca ouviu falar na assertiva: "a vida é uma roda gigante".
Num breve pecorrido histórico, veremos que a dominação masculina ganha força quando os homens se surpreendem com certa descoberta excitante: seu papel na reprodução. Até então os homens eram meros objetos. Mas de objetos a sujeitos, o salto foi desmedido.
Agora eles passam a determinar a ordem das coisas, o discurso muda a direção. Os homens são os grandes dominadores das mulheres. A reprodução e a sexualidade feminina ficam dependentes da volição masculina.
Mas se na vida nada é tão absolutamente incontestável, o movimento feminista faz sua aparição para tentar destituir os "fortes" - os fálicos - de seu pedestal.
A luta foi tão inflamada que irrefletidamente o movimento se configura mais contra os homens do que a favor das mulheres. É o sempre atual axioma da inversão de posições, deixar de ser oprimido para ser opressor.
Nesse contexto, as mulheres assumem papéis masculinos, passam a exercer profissões, anteriormente, de exclusividade masculina.
A crise começa a ser instalada. É o falacioso poder masculino posto à prova.
E quando da situação, eles parecem se tornar indispensáveis, será?
Os homens perdem sua contribuição pontual, outrora obrigatória em nossa civilização androcêntrica.
Nos dias atuais, com a revolução tecnólogica no campo das ciências biológicas, da genética, da reprodução, o papel pontual do homem ganha caráter indispensável. Será?
Estamos caminhando para as relações sintéticas, hermafroditas? A alteridade perdeu o sabor?
Bem, nesse emaranhado de artificialidade, de negações desnecessárias, feliz é o comentário da escritora inglesa em seu artigo irônico no diário The Guardian, onde postula que apesar de tudo não se pode viver sem eles, destarte pede que eles fiquem. “Fiquem, homens, fiquem”.
Estou com ela!
Roseane Farias

"Quem deseja nunca alcança"

"O homem, por assim dizer, tornou-se uma espécie de 'Deus de prótese' "
Freud

Que mal-estar...
Freud em "O Mal- Estar na Civilização" (1927 - 1931) já nos antecipava que a civilização alcançaria, em épocas futuras, inimagináveis grandes avanços, o que tornaria o homem ainda mais semelhante a Deus. Entrementes, ele anunciava que esse papel de "quase deus" não estava fazendo com que o homem se sentisse mais feliz.
Sendo assim, o mal - estar continua...
Se outrora a civilização foi se constituindo a partir de intentos bem mais amenos como proteger os homens contra a natureza e ajustar seus relacionamentos, na contemporaneidade o cenário é bem mais ambicioso.
Estamos no século da plasticidade, do descartável, dos relacionamentos líquidos e do espermatozóide sintético.
Que evolução, Freud já pressagiava tal destino.
Se nos reportarmos ao sujeito da psicanálise iremos nos deparar com um sujeito sempre desejante porque sempre faltante. É essa falta inerente, esse buraco inexplicável, inenarrável, a falta inevitável.
Haverá sempre uma busca por esse algo que não se encontra nunca.
E por esse viés o homem vai satisfazendo sua razão, sua sapiência, sua pretensa onipotência. Todavia, contraditoriamente, vai se tornando cada vez mais infeliz, mais apático, mais plástico, mais descartável e mais sintético.
Roseane Farias

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

A verdade tamponada


Enquanto o "mundo inteiro" discursa o mascarado, eu fico com a verdade.

Sem querer entrar nos méritos do que é a verdade ou o que ela significa ou ainda se ela realmente existe, dizer a verdade não é algo mais que se incite a fazer no nosso mundinho contemporâneo. O ato de falar a verdade não combina com esse nosso novo contexto "moderno", líquido (como diria Bauman), plástico, principalmente porque verdades implicam compromissos, vínculos, afetos, transparência, autenticidade... Bem, "deixa para lá" diriam algumas pessoas, afinal comportar tudo isso ai exige esforço demais!

Mas eu continuo com a verdade!

É fácil omitir o que penso, o que sinto... É simples usar a máscara! Tirá-la é dispêndio demais! Lucra-se mais com o velado, o superego ajuda.

Se esconder por trás de discursos autosuficientes e encharcados de hipocrisias imprime a falsa sensação de bem estar, mas a verdade (olha ela aqui) é bem diferente. Só o sujeito que enuncia o seu discurso (que não é bem seu) sabe o que lhe custa proferí-lo. É a famosa luta entre as pulsões de vida e de morte proferidas por Freud, sendo assim, eu entendo...

O conflito está em toda parte e na contemporaneidade conflitos são o que não faltam! Por isso que afirmo: felizes são os loucos (se é que eles existem) que comportam estranhos poderes, como dizia Foucault, de dizer uma verdade escondida, como eu diria uma verdade tamponada! Sendo assim, eu fico com eles!
Roseane Farias

domingo, 27 de setembro de 2009

O paradoxo da ciência


Que espanto! Ao começar a folhear as páginas de um jornal, de imediato me salta aos olhos a chamada de um artigo: O mundo sem homens! Pensei: "nossa, de que se trata?" Fui devorar o texto que para meu espanto se tratava da nova invenção científica quanto a reprodução humana. Pasmem!Espermatozóide sintético já é uma realidade!! Mesmo sendo algo, garantem os cientistas, realizado com a pretensão de apenas conhecer melhor os segredos celulares do espermatozóide (quem for tolo que acredite nisso), a novidade não deixa de incitar discussões do ponto de vista ético, político e moral.
Ao pensarmos no sujeito da psicanálise, iremos nos deparar com esse sujeito sempre desejante, incansável, insaciável que está sempre insatisfeito porque está sempre a procura de alguma coisa que o torna justificadamente incompleto. A ciência é a imagem desse sujeito... Ela nunca está satisfeita, para ela o impossível é o lugar, é o tão sonhado reencontro com a completude, aquela que vivemos tão fantasiosamente quando éramos bebê no colo de nossa mãe.
Dessa forma, o paradoxo da ciência está posto, pois ao mesmo tempo que ela se mostra precisamente um capital do conhecimento- o poder simbólico (como nos diria Bourdieu) que coloca o homem no patamar de um "quase deus"- ela também expõe a fragilidade inerente do homem, ou seja, sua incompletude pontual, o seu "real" inenarrável, a sua castração incrustada, mas tão negada.
Criar espermatozóide sintético atesta alguma falha... Onde se pensa chegar com isso? Por que dispensar tanto empenho para tornar os homens (machos) tao dispensáveis assim?
Pensamos que torná-lo dispensável é uma forma talvez de tornar sua carga mais leve, o isenta de provar incessantemente que é Homem que é o dono do falo! Afinal, há séculos o homem é cobrado por uma sociedade de base androcêntrica que ao mesmo tempo que o colocou no centro do palco o fez pagar caro com tantas exigências, com tantas provas de masculinidades a serem vencidas... Enfim, não é novidade a tão falada crise da masculinidade!Bem, são questões que incitam discussões, assim retornaremos a ela...

Roseane Farias

sexta-feira, 31 de julho de 2009

A marca da fala...


Falar, verbalizar, hoje tão comum, outrora nao...
O feminino e sua trajetória por vezes silenciada. Pensar em escrever livremente o que se pensa - mas não tão livremente assim, afinal há uma farsa nessa tal "liberdade de expressão"- é uma dádiva que as mulheres alcançaram, de forma mais declarada, pública, diríamos, a partir do final do século XIX.
Esse tempo marcou algo talvez impensado pelos "patriarcas de plantão", algo que tanto lutaram contra que se tornou realidade. A fala tornou-se propriedade das mulheres também e isso, podemos dizer, com o apoio de alguns homens, avançados de seu tempo, amantes, quem sabe, admiradores nao só da beleza feminina mas também de sua inteligência, tão renegada por séculos... Penso: "esses homens conseguiram ir além, enxergar aquilo que a crosta dos olhos limitados de uma sociedade androcêntrica, em geral, não conseguia ver."
É nesse contexto que algumas mulheres passam a tomar o "falo da fala" através de publicações de memórias, diários, confissões. Tornam-se sujeitos de discurso.
Virgínia Woolf (1882-1941), uma das mais importantes figuras da literatura inglesa, é um dos ilustres exemplos, já nas primeiras décadas do século XX, do poder que o feminino alcançou através da escrita. E ela retratou bem o que na verdade importa às mulheres: liberdade para experimentar e para serem diferentes dos homens! Afinal eu diria: "nao às desigualdades e sim às diferenças"!!!!

Roseane Farias