sábado, 4 de maio de 2013

Por que mãe e pai marcam tanto? Um registro indelével, uma impressão a ferro em brasa.
Mas aquilo que marca também fere, machuca.
E pai e mãe não presumem o quanto têm força nisso.
Aquelas palavras duras, aquele olhar sem orgulho, por vezes desprezível...
Não era o filho que desejava ter?
O próprio fracasso estampado na sua criação?
Queria mais, mais alguma coisa que tamponasse a própria decepção.
Mas o que será custoso para esse filho entender é que nada disso tem a ver com ele.
Este só herdou os registros que marcaram as histórias de vida de cada um de seus pais.
"você não vai dar para nada"; "você não vai conseguir"; "você será um zé ninguém"; "você é o meu lado ruim"...
Estas declarações, sem muito esforço, terminarão se transformando em profecias na vida do filho, porque é muito difícil devolver palavras, desejos, construir um percurso sozinho sem a marca encorajadora daquele que se deseja orgulhar.
De repente, um dia, o filho acorda e percebe que se tornou aquilo que seu pai (ou sua mãe) proferiu.
O fracasso volta em mais uma geração.
E o filho vai procurar suas soluções.
Um novo olhar na figura de um marido, de uma esposa, de um professor, de um psicólogo...
Alguém que talvez consiga milagrosamente preencher uma falta impreenchível.
Um buraco fundo carregado de coisas caladas, de silêncios amordaçados, de pensamentos e sentimentos depreciativos a respeito de si mesmo.
Mas... há sempre um "mas".
Libertar o que cala, aquilo que impede o passo, o voo.
Falar é libertador.
Dar voz aquilo que aprisiona, que impede o passo adiante.
É uma esperança possível.
Avante!

Roseane Farias



domingo, 22 de janeiro de 2012

De repente, quase 30...

De repente, me dei conta, quase 30...
Assustador, quase 30...
Esteve tão longe dos meus sonhos... E quando aparecia não era parecido com agora!
De repente, me dei conta, quase 30...
O que fiz, o que mudei, o que perdi, o que amei...
O mesmo anel, o mesmo pingente, a mesma pulseira...
O mesmo coração tolo, a mesma fé nas pessoas...
Os mesmos gostos, as mesmas musicas, o mesmo paladar...
De repente 30, e parecia tão longe!
E ficam as lembranças, o que sofri, o que vivi
Porque... de repente, é quase 30.

Roseane Farias

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

As faces da paixão

Paixão movimenta, afugenta a letargia.
Sintoniza a vida, inspira o dia.
De tanta coisa boa que traz parece que todo mundo quer estar apaixonado...
Entretanto, nesse entremeio, alguma coisa fica empacada, algo sai desajeitado.
Querer, sentir e dizer parece que pegam a contra-mão, vão na rota oposta.
E o desejo continua ali crescendo abafado.
Medo?
Carpinejar lembra essa parte:
"A paixão é pessimista, antecipa tudo com medo de que o amor não aconteça."
Medo de não ser aceito, da fantasia acabar, de descobrir que o desejo e a satisfação dele nem sempre andam juntos...
Insegurança, medo de ser rejeitado, medo de perder...
Me parece que agora a outra face da paixão veio a tona, o que era bom mostrou seu lado indesejado.
Mas ainda assim, continua-se apaixonado.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Todo excesso é sintomático

Todo excesso, sem exceção, é sintomático.
Bem vindo a cultura dos excessos!
Parece que tudo é demasiado.
O sujeito busca tanto emendar a falta que torna-se excessivo, obsessivo.
Obsessivo pelo excesso porque busca o que nem sabe.
Não reconhece seu desejo, parece estranho a ele mesmo.
O excesso do consumo...
Da bebida, da comida e já que neste âmbito, do sexo...
Tudo é (de)mais...
E nesses momentos de excesso, forja-se uma felicidade que também excede.
E repete, repete, repete...
Sempre aquela mesma história
Compulsão a repetição, Freud já alertava.
Mas, quando de volta ao não excedido da sua real existência, a calmaria e o silêncio, o espelho defronte de si mesmo, sem aquele barulho do excesso: encontro insuportável.
Então, repete, repete e repete...
Roseane Farias

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Alem do sintoma


Adoeceu! De repente, um sintoma irrompe e fragiliza o corpo.

Nada demais, simplesmente aconteceu...

A cabeça doe, o corpo reclama, parece que algo se esgotou, se entregou e deu trégua.

A trégua do barulho de mim mesmo, aquele que sustenta a minha mentira, minha falsidade ideológica.

Minha imagem como um documento sem rasuras e nem borrões. O que se vê parece verdadeiro. Todavia, nesse caso, aquilo que está dentro do documento é o que denuncia sua (não)originalidade.

Porque falsa é a idéia que ele contém.

O sintoma denota essa falha! Irrompe devastando a integridade do corpo.

O mundo fantasiado, falseado, a máscara da existência claudicou e caiu.

O conflito dos dois mundos.

Conflito do desejo.

Entre aquilo que se deseja e o que não se pode desejar.

O desejo que se realiza parece que é pequeno perto daquele que é irealizado.

E assim, o corpo sinaliza para avisar que algo não está mais dando certo, não está mais funcionando.

O corpo termina estampando, fazendo a denúncia do desejo.

Se expressando como um hieróglifo a ser decifrado a partir do sintoma.

E nesse percurso, de desejo em desejo, não se surpreenda, haverá sempre um sintoma.
Roseane Farias



quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O avesso da lei

A lei que não se cumpre...

E o direito `as avessas.

De um lado a submissão forçada, a fragilidade forjada.

De outro, o poder e o direito confusos no emaranhado da ilusória força masculina.

Homens contra mulheres.

E por efeito do feminismo, hoje: Mulheres contra homens.

Da luta pela igualdade, elas esqueceram que a princípio era a favor de si mesmas e não contra eles.

Entrementes, séculos de androcentrismo impregnaram o imaginário social.

Disso o século XXI não se livrou, apenas tentou varrer para debaixo do tapete.

Maria da Penha tentou, insistiu e não apenas saiu, como rasgou o tapete.

Todavia, suportar essa fenda é se deparar com a castração.

Belos histéricos nós temos!

Parece difícil punir o agressor.

Árdua tarefa aceitar que não há propriedade.

Que mulher não pertence e nem é direito.

E aqueles que aplicam a lei, divididos, confusos. Ainda não sabem de que lado ficar.

Recordando Badinter (2005), questiono também de que lado nós mulheres estamos?

O "vitimismo" também traz gozo.

Roseane Farias

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O blefe da euforia

As vezes o entusiasmo até convence.
As megalomaníacas conquistas, os alardes sobre as aventuras amorosas, aliás, sexuais.
As mil e uma noites, os mil e um encontros.
Incansável, predador, pega-dor...
Se tem o que quer parece satisfeito, mas por que a busca é interminável?
Desejo... que desejo é esse? é repetitivo, por isso obsessivo.
A lógica é justamente a oposta, aqui quantidade é sinônimo de barulho.
Inquiet(ação), uma ação que radiografa uma insatisfação.
Um barulho velado pelo sorriso sarcástico, sarcástico o suficiente para tamponar bem a falta.
E se eu te perguntar o que falta, responderá de súbito: nada!
Decerto, pensará depois. Há sempre esse instante inevitável.
Todavia, quantos minutos se ganhará com a interrogação?
Presumo que deparar-se consigo mesmo nem sempre é tentador, o espelho é ameaçador.

Roseane Farias