segunda-feira, 31 de maio de 2010

Cultura de excessos

Perversa, excessiva, líquida, nossa cultura responde ao excessivo, é perversa.
Tudo se esvai, é líquida.
Há uma relação peculiar do sujeito com a cultura, tudo enfeixado.
São os nós que constituem o que chamamos de civilização.
E nessa linha nue entre sujeito e cultura, as manifestações clínicas estampadas no cenário comtemporâneo são expressões do mal-estar que marca a atualidade.
O mal-estar da anorexia, das fobias,da bulimia, da síndrome do pânico. O mal-estar da cultura.
Assistimos apáticos ao funcionamento social, aquele que tece os sintomas vividos.
O sujeito despersonalizado. Sem identidade, inconformado.
Nesse palco atroz, a subjetividade discursiva cede lugar a subjetividade da imagem. Alguém já ouviu dizer: "imagem é tudo"
E no campo das imagens produzem-se as psicopatologias, as quais tornam-se peças comuns, fazem parte...
Para fugir do indizível, do não falado- porque palavras não falam mais- o sujeito vomita, perde o apetite de falar, se aprisiona num silêncio silenciado, entra em pânico, o pânico da fobia de viver.

Roseane Farias

sexta-feira, 7 de maio de 2010

As vezes, o verbo é para incomunicar

Incomunicar, as vezes, jaz a intenção do Verbo.
Se não para comunicar, confundir com certeza.
E nas entrelinhas das palavras ditas, uma verdade não falada, uma voz que não se escuta.
Ao pensar saber tudo porque se ouviu, "a verdade" se diverte no empobrecer da linguagem tão limitada quando se trata de desejos, de dor, de sentimentos...
Subjacente ao Verbo, as coisas caladas se denunciam num olhar, num gesto, no embravecer de uma afirmação, no comunicar de uma fala racional, elaborada, tão impregnada de razoes justificadas que acordam com o sujeito um tratado de paz.
Por um instante se pensa estar seguro e guardado, tudo em paz...
Todavia, o caos das "verdades" prensadas num discurso "arrumado" fazem suas fendas, abrem sempre, de alguma forma, seus furos, as vezes, na própria linguagem e nessa linha tenue a verdade velada vai aos poucos mostrando sua cara, se não por palavras, por ato.

Roseane Farias